Revista Brasileira de Meio Ambiente

Periódico de Acesso Aberto

CiteScore

0.4

Indexada na
SCOPUS

QUALIS

B3

2017-2021
quadriênio

Idioma

Revista Brasileira de Meio Ambiente

e-ISSN: 2595-4431


Resumo

O caranguejo-uçá (Ucides cordatus) é um crustáceo decápodo endêmico de manguezais, com distribuição ao longo de todo o litoral brasileiro. Essa espécie participa da bioturbação dos sedimentos, do fluxo de matéria orgânica/energia e da cadeia trófica neste ambiente costeiro. As comunidades litorâneas tradicionais, caiçaras, sobrevivem da cata e comércio deste crustáceo, que, por ser uma atividade extrativista típica dos manguezais brasileiros, pode prejudicar o ambiente quando em desacordo às normas vigentes. O presente estudo tem como objetivo levantar informações socioeconômicas associadas ao conhecimento etnobiológico dos catadores de caranguejo-uçá do Estuário do Rio Itanhaém (SP), em relação ao estado de conservação dessa espécie e do manguezal. Os catadores obtidos pela técnica snowball foram entrevistados utilizando um questionário semiestruturado. Os dados foram analisados de forma quali-quantitativa, por meio do Discurso do Sujeito Coletivo, sempre que possível respaldado estatisticamente. A quantidade de catadores que atuam nesse sistema estuarino (n = 9) superou em 80% o indicado pela Colônia de Pescadores “Z-13”. Todos os entrevistados pertenciam ao gênero masculino, 67% dos quais oriundos do próprio município, 33% trabalhando na clandestinidade, o que coloca em risco o manejo da espécie. Entre os impactos negativos ao manguezal, 100% dos catadores se preocupam com sua destruição, ocupação irregular e supressão da mata ciliar, enquanto 78% citaram a contaminação pelos resíduos sólidos, indicando que ações de monitoramento e fiscalização são imprescindíveis ao manejo e conservação deste ecossistema.

Referências

  • Abrunhosa, F. A.; Neto, A. A. S.; Melo, M. A. & Carvalho, L. O. (2002). Importância da alimentação e do alimento no primeiro estágio larval de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Ocypodidae). Revista Ciências Agronômicas, 33(2), 5-12.
  • Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P. & Cunha, L. V. F. C. (2010). Métodos e técnicas na pesquisa etnobiológica e etnoecológica. Recife: NUPEEA, 204p.
  • Alves, B. S. & Quiñones, E. M. (2013). Análise da degradação da mata ciliar nos afluentes do Rio Itanhaém – SP. Revista Ceciliana, 5(2), 5-11.
  • Alves, R. R. N.; Nishida, A. K. & Hernandéz, M. I. M. (2005). Environmental perception of gatherers of the crab 'caranguejo-uçá' (Ucides cordatus, Decapoda, Brachyura) affecting their collection atitudes. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 1, 1-10. https://doi.org/10.1186/1746-4269-1-10
  • Barboza, R. S. L.; Neumann-Leitão, S.; Barboza, M. S. L. & Batista-Leite, L. M. A. (2008). “Fui no mangue catar lixo, pegar caranguejo, conversar com o urubu”: Estudo socioeconômico dos catadores de caranguejo no litoral norte de Pernambuco. Revista Brasileira de Engenharia de Pesca, 3(2), 117-134.
  • Berkes, F. (1993). Conhecimento ecológico tradicional em perspectiva. In: Inglis, J. T. (Ed.). Conhecimento Ecológico Tradicional: Conceitos e Casos. Ottawa: IDRC, p 1-9.
  • Bernard, H. R. (2005). Research methods in anthropology: qualitative and quantitative approaches (4a ed.). Lanham, MD: AltaMira Press, 821p.
  • Boeger, W. A.; Pie, M. R.; Vicente, V.; Ostrensky, A.; Hungria, D. & Castilho, G. G. (2007). Histopathology of the mangrove land crab Ucides cordatus (Ocypodidae) affected by lethargic crab disease. Diseases of Aquatic Organisms, Oldendorf/Luhe, 78, 73-81.
  • Boni, V. & Quaresma, S. J. (2005). Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC, 2(3), 68-80.
  • Cortês, L. H. O.; Zappes, C. A. & Beneditto, A. P. M. (2014). Ethnoecology, gathering techniques and traditional management of the crab Ucides cordatus Linnaeus, 1763 in a mangrove forest in southeastern Brazil. Ocean e Coastal Management, 93, 129-138.
  • Costa-Neto, E. M. & Gordiano-Lima, K. L. (2000). Contribuição ao estudo da interação entre pescadores e caranguejos (Crustacea, Decapoda, Brachyura): considerações etnobiológicas em uma comunidade pesqueira no estado da Bahia, Brasil. Actualidades Biológicas, 22(73), 195-202.
  • Dictoro, V. P.; Galvão, D. F. & Hanai, F. Y. (2016). O estudo das representações sociais e da percepção ambiental como instrumento de análise das relações humanas com a água. Ambiente e Educação, 21(1), 232-251.
  • Diele, K.; Koch, V. & Saint-Paul, U. (2005). Population structure, catch composition and CPUE of the artisanally harvested mangrove crab Ucides cordatus (Ocypodidae) in the Caeté estuary, North Brazil: Indications for overfishing? Aquatic Living Resources, 18, 169-178.
  • Fagundes, L.; Souza, M. R.; Tomás, A. R. G.; Bastos, G. C. C. & Tutui, S. L. S. (2012). Aspectos produtivos da pesca extrativa na vila dos pescadores, Cubatão, Estado de São Paulo. Informações Econômicas, 42(6), 23-32.
  • Fiscarelli, A. G. & Pinheiro, M. A. A. (2002). Perfil sócio-econômico e conhecimento etnobiológico do catador de caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), nos manguezais de Iguape (24°41’S), SP, Brasil. Actualidades Biológicas, 24(77), 39-52.
  • Frake, C. O. (1962). The ethnographic study of cognitive systems. In: Fishman, J. A., 1968. Readings in the Sociology of Language, p 434-446.
  • Harvell, C. D.; Kim, K.; Burkholder, J. M.; Colwell, R. R.; Epstein, P. R.; Grimes, D. J.; Hofmann, E. E.; Lipp, E. K.; Osterhaus, A .D. M. E.; Overstreet, R. M.; Porter, J. W.; Smith, G. W. & Vasta, G. R. (1999). Emerging marine diseases-climate links and anthropogenic factors. Science, 285, 1505-1510.
  • Hattori, G.Y. & Pinheiro, M.A.A. (2003). Fertilidade do caranguejo de mangue Ucides cordatus (Linnaeus) (Crustacea, Brachyura, Ocypodidae), em Iguape (São Paulo, Brasil). Revista Brasileira de Zoologia, 20(2), 309-313. https://doi.org/10.1590/S0101-81752003000200022
  • Hudelson, P.M. (1994). Qualitative research for health programmes. Geneva: World Health Organization, 102p.
  • IBAMA - Instituto brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (1994). Lagosta, Caranguejo-Uçá e Camarão-do-Nordeste. Coleção Meio Ambiente. Série Estudos de Pesca, (10), Brasília.
  • IBAMA - Instituto brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Portaria nº 52 de 30 de setembro de 2003. Dispõe sobre o defeso do caranguejo-uçá. Instituto brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Diário Oficial da União, 02 de out. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/legislacao/Portaria/2003/p_ibama_52_2003_defesocaranguejouca_se_s.pdf>. Acessado em março/2019.
  • IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017). Panorama Itanhaém. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/itanhaem/panorama>. Acesso em 15/03/19.
  • Ihaka, R. & Gentleman, R. (1996). R: a language for data analysis and graphics. Journal of Computational and Graphical Statistics, 5, 299-314.
  • IPT/PMI - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo / Prefeitura Municipal de Itanhaém (2012). Atlas Ambiental do Município de Itanhaém. São Paulo: Imprensa Oficial, 92p.
  • Koch, V. & Wolff, M. (2002). Energy budget and ecological role of mangrove epibenthos in the Caeté estuary, North Brazil. Marine Ecology Progress Series, 228, 119-130.
  • Lefévre, F.; Lefévre, A. M. C. & Teixeira, J. J. V. (2000). O discurso do sujeito coletivo. Uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul: EDUCS, 138p.
  • Lefévre, F. & Lefévre, A. M. C. (2006). O sujeito coletivo que fala. Interface: Comunicação, Saúde e Educação, 10(20), 517-24. https://doi.org/10.1590/S1414-32832006000200017
  • Machado, I. C.; Fagundes, L. & Henriques, M. B. (2010). Perfil socioeconômico e produtivo dos extrativistas da ostra de mangue Crassostrea spp. em Cananéia, São Paulo. Informações Econômicas, 40(7), 67-79.
  • Machado, I. C.; Piccolo, N.; Barros, M. R.; Matsunaga, A. M. F. & Pinheiro, M. A. A. (2018). The capture of the mangrove crab (Ucides cordatus) in the estuarine system of Santos-São Vicente: Ethnoecology of the fishermen from Vila dos Pescadores, Cubatão (SP), Brazil. Boletim do Instituto de Pesca, 44(2), e257. https://doi.org/10.20950/1678-2305.2018.257
  • Minayo, M. C. S. (2006). O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 406p.
  • Monteles, J. S.; Funo, I. C. S. A.; Castro, T. C. S.; Viana, D. C.; Conceição, P. F. S. & França, V. L. (2009). Percepção socioambiental das marisqueiras no município de Raposa, Maranhão, Brasil. Revista Brasileira de Engenharia de Pesca, 4(2), 34-45.
  • Moraes, E. E. B.; Nunesmaia, B. J. B. & Pinheiro, M. A. A. (2015). Population biology of ‘uçá’-crab, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Brachyura: Ucididae), in mangroves of the Joanes River, Bahia state, Brazil. Nauplius, 23(1), 59-71.
  • Namora, R. C.; Motta, F. S. & Gadig, O. B. F. (2009). Caracterização da pesca artesanal na praia dos pescadores, município de Itanhaém, costa Centro-Sul do Estado de São Paulo. Arquivos de Ciências do Mar, 42(2), 60-67.
  • Nordhaus, I.; Wolff, M. & Diele, K. (2006). Litter processing and population food intake of the mangrove crab Ucides cordatus in a high intertidal forest in northern Brazil. Estuarine Coastal and Shelf Science, 67, 239-250
  • Nordhaus, I. & Wolff, M. (2007). Feeding ecology of the mangrove crab Ucides cordatus (Ocypodidae): food choice, food quality and assimilation efficiency. Marine Biology, 151, 1665-1681.
  • Nordhaus, I; Diele, K. & Wolff, M. (2009). Activity patterns, feeding and burrowing behaviour of the crab Ucides cordatus (Ucididae) in a high intertidal mangrove forest in North Brazil. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 374, 104-112. https://doi.org/10.1016/j.jembe.2009.04.002
  • Pinheiro, M. A. A & Fiscarelli, A. G. (2001). Manual de apoio à fiscalização do caranguejo-uçá (Ucides cordatus). Itajaí: UNESP/CEPSUL-IBAMA, 43p.
  • Pinheiro, M. A. A. & Rodrigues, A. M. T. (2011). Crustáceos sobre-explotados e o Plano Nacional de Gestão dos caranguejos uçá (Ucides cordatus), guaiamú (Cardisoma guanhumi) e do siri-azul (Callinectes sapidus): uma estratégia para evitar que passe ao “status” de ameaçados de extinção. Revista CEPSUL – Biodiversidade e Conservação Marinha, 2(1), 50-57.
  • Pinheiro, M. A. A.; Souza, M. R.; Santos, L. C. M. & Fontes, R. F. C. (2018). Density, abundance and extractive potential of the mangrove crab, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Brachyura, Ocypodidae): subsidies for fishery management. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 90(2), 1381-1395.
  • Pinto, A. B.; Pagnocca, F. C.; Pinheiro, M. A. A.; Fontes, R. F. C. & Oliveira, A. J. F. C. (2015). Heavy metals and TPH effects on microbial abundance and diversity in two estuarine areas of the southern-central coast of São Paulo State, Brazil. Marine Pollution Bulettin, 96, 410-417. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2015.04.014
  • Posey, D. A. (1987). Etnobiologia: teoria e prática. In: Ribeiro, D. (Ed.). Suma etnológica brasileira. Petrópolis: Vozes/Finep, v.1, p 15 -25.
  • Posey, D. A. & Balée, W. (Eds.) (1989). Resource Management in Amazonia: indigenous and folk strategies. New York: New York Botanical Garden, 287p.
  • Quintas, J. S. (2005). Introdução à Gestão Ambiental Pública. Brasília: IBAMA, 132p.
  • Ribeiro-Neto, F. B. & Oliveira, M. F. (1989). Estratégias de sobrevivência de comunidades litorâneas em regiões ecologicamente degradadas: O Caso da Baixada Santista. São Paulo: Programa de Pesquisa e Conservação de Áreas Úmidas no Brasil – F. FORD/IUCN/IOUSP, 126p.
  • Romani, C. (2006). Conflitos sócio-ambientais na Baixada Santista: ensaio final - relatório de pesquisa. São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), 62p.
  • Santos, M. C. F.; Port, D.; Fisch, F.; Barbieri, E. & Branco, J. O. (2016). Biologia populacional de Callinectes ornatus associada à pesca do camarão-sete-barbas, rio São Francisco (Alagoas e Sergipe, Brasil). Boletim do Instituto de Pesca, 42(2), 449-456.
  • SÃO PAULO. Decreto 60.133, de 7 de fevereiro de 2014. Declara as espécies da fauna silvestre ameaçadas de extinção, as quase ameaçadas e as deficientes de dados para avaliação no Estado de São Paulo e dá providências correlatas. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 08 de fevereiro. Disponível em: <http://arquivos.ambiente.sp.gov.br/fauna/2016/12/Decreto.Estadual.60133.14.fauna_.amea%C3%A7ada.pdf>. Acessado em março/2019. 2014.
  • Schaeffer-Novelli, Y.; Cintrón-Molero, G.; Coelho, C. Jr.; Almeida, R. & Menghini, R. P. (2004, maio-junho). A mortandade de caranguejo-do-mangue no Nordeste do Brasil: Evidências circunstanciais para uma epizootia com origem relacionada à produção de camarão peneídeo marinho. Resumos do II Simpósio Brasileiro de Oceanografia. São Paulo, 31.
  • Schmidt, A. J. & Oliveira, M. A (Coords.) (2006). Plano de ação para o caranguejo-uçá em Canavieiras. Brasil: Ecotuba, 96p.
  • Schmidt, A. J.; Oliveira, M. A.; Souza, E. P.; May, M. & Araujo, S. M. B. (2009). Estudo comparativo da dinâmica populacional de caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea-Decapoda-Brachyura) em áreas afetadas por uma mortalidade em massa no Sul da Bahia, Brasil. Boletim Técnico Científico do CEPENE, 17(1), 41-64.
  • Schwidetzky, I. (1955). Etnobiologia. Morck, H. F (Trad.). Alaminos, L. (Rev.). México: Fondo de Cultura Econômica, 441p.
  • Selltiz, C. (1974). Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: EPU, 687p.
  • Siegel, S. & Castellan Jr., N. J. (1988). Nonparametric statistics for the behavioral sciences (2a ed.). New York: McGraw-Hill., 400p.
  • SMA - Secretaria do Meio Ambiente. Resolução nº 64 de 30 de setembro de 2015. Estabelece condições para utilização em caráter excepcional da captura do caranguejo-uçá. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 01 de outubro. Disponível em: <https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/legislacao/2015/09/resolucao-sma-64-2015/>. Acessado em março/2019.
  • Sokal, R. R. & Rohlf, F. J. (2003). Biometry: The principles and practice of statistics in biological research (3a ed.). New York: W.H. Freeman, 887p.
  • SOU DA PAZ - Instituto Sou da Paz (2018). Ranking de Exposição a Crimes Violentos – Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.soudapaz.org/noticia/ranking-de-exposicao-a-crimes-violentos-estado-de-sao-paulo-2018. Acesso em: 01/05/2019.
  • Sousa-Pereira, P. E. & Camargo, A. F. M. (2004). Efeito da salinidade e do esgoto orgânico sobre a comunidade zooplanctônica, com ênfase nos copépodes, do estuário do rio Itanhaém, Estado de São Paulo. Acta Scientiarum Biological Sciences, 26(1), 9-17. https://doi.org/10.4025/actascibiolsci.v26i1.1652
  • Vieira, S. (2008). Como escrever uma tese (6a ed.). São Paulo: Atlas, 152p.

Informações do artigo

Histórico

  • Recebido: 14/05/2020
  • Publicado: 11/09/2020